Nova Autoridade Tributária e Aduaneira de Cabo Verde: um passo decisivo para a modernização fiscal
- heldervieira9
- 18 de nov.
- 3 min de leitura
O Decreto-Lei n.º 34/2025, publicado a 4 de novembro, marca uma mudança estrutural importante na administração fiscal cabo-verdiana, com a criação da Autoridade Tributária e Aduaneira de Cabo Verde (ATCV, I.P.), que substitui a antiga Direção Nacional de Receitas do Estado (DNRE).

Mais do que uma simples alteração de nome, trata-se de uma transformação de modelo de governança, que pretende conferir à administração tributária maior autonomia administrativa, financeira e tecnológica, alinhando o país com as melhores práticas internacionais e reforçando a sua capacidade de combater a evasão fiscal e modernizar os serviços prestados a cidadãos e empresas.
Uma nova estrutura para novos desafios
A criação da ATCV representa uma resposta às exigências de um contexto global cada vez mais complexo, marcado pela digitalização, pela interconexão económica e pela necessidade de maior transparência e eficiência na gestão pública.
O novo modelo institui um Conselho Diretivo (composto por um Presidente e dois Vogais), um Conselho Fiscal e um Conselho Consultivo, que incluirá representantes de ordens profissionais e do setor privado, como a Ordem dos Contabilistas e Auditores e o Conselho Superior das Câmaras de Comércio. Esta composição visa assegurar uma governança mais participativa e colaborativa, envolvendo atores estratégicos da economia cabo verdiana.
Entre as mudanças mais significativas, destaca-se a possibilidade da ATCV gerir o seu próprio orçamento e recursos humanos, adotar contratos individuais em situações específicas e investir diretamente em tecnologia e inovação, sem depender de autorizações externas.
Autonomia como motor de eficiência
A experiência de países como Portugal, Brasil e Chile demonstra que a autonomia das autoridades tributárias tende a gerar melhores resultados fiscais, maior eficiência e uma relação mais transparente entre Estado e contribuintes.
Em Cabo Verde, espera-se que a ATCV beneficie de:
Decisões mais ágeis no combate à evasão fiscal e na gestão de cobranças;
Maior flexibilidade orçamental, canalizando recursos para áreas estratégicas como TI e capacitação;
Melhor gestão de talentos, com equipas técnicas especializadas e focadas em resultados;
Fortalecimento da transparência e accountability, através de planos e relatórios públicos regulares.
Contudo, os desafios também são evidentes. A transição requer investimento, formação e adaptação, tanto por parte do Estado como das empresas, para garantir que a autonomia se traduza em resultados concretos e não em novos entraves burocráticos.
Impacto para o setor privado
Para as empresas, o novo modelo traz oportunidades e responsabilidades. A modernização dos sistemas fiscais promete maior previsibilidade e rapidez na tramitação de processos, mas também um reforço da fiscalização, com maior cruzamento de dados e exigência de compliance.
As empresas devem, por isso:
Atualizar os seus sistemas de gestão financeira para acompanhar a digitalização;
Formar as equipas de contabilidade e finanças para lidar com novas plataformas e exigências;
Participar ativamente nos canais de consulta e nos fóruns do Conselho Consultivo; • Reforçar políticas internas de transparência e governança fiscal.
Um apelo à cidadania fiscal
Apesar dos avanços tecnológicos e normativos, ainda há um desfasamento entre o ritmo da administração fiscal e o do setor privado. Como explica o gestor Carlos Graça, “na BTOC recebemos diariamente pedidos de empresas que enfrentam notificações por impostos indevidamente apurados. A evolução da administração fiscal, nomeadamente com a transformação digital, não está a ser acompanhada pela maioria das empresas, o que aumenta os riscos sobre os seus negócios.”
A fiscalidade, sublinha, “não é apenas uma obrigação, mas uma ferramenta estratégica de gestão que influencia a competitividade, a credibilidade e a sustentabilidade das empresas”. Um marco na reforma fiscal
Com a criação da ATCV, Cabo Verde dá um passo relevante na modernização do seu sistema tributário e aduaneiro, reforçando a capacidade do Estado de arrecadar melhor e servir melhor. A efetividade deste novo modelo dependerá da sua implementação prática — e do compromisso de todos os atores, públicos e privados, em promover uma verdadeira cidadania fiscal.
Saiba mais
Este tema foi abordado em detalhe no mais recente episódio do podcast “Economia Descomplicada”.
Ouça o episódio completo aqui: https://share.transistor.fm/s/2c40c225








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